Braga celebra os 650 anos da Aliança Luso-Britânica
Comemorações da mais antiga aliança diplomática conta com um vasto conjunto de iniciativas a decorrer em Portugal e no Reino Unido
Braga, 24 de março de 2022 – O programa das comemorações dos 650 anos da Aliança Luso-Britânica foi apresentado esta quarta-feira, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Braga, numa Conferência de Imprensa liderada por Ricardo Rio, presidente do Município, que esteve acompanhado por Katharine Felton, Conselheira Política da Embaixada Britânica em Lisboa e Maria João Rodrigues de Araujo, presidente de Portugal-UK 650.
Trata-se de um programa muito alargado, da iniciativa de Portugal-UK 650, que engloba diversas ações trabalhadas em parceria com mais de 100 instituições portuguesas e britânicas, nomeadamente a Câmara Municipal de Braga, no âmbito da investigação, educação, cultura, comércio, de cooperação e sociais e que irão decorrer até meados de 2023.
A celebração dos 650 anos da aliança diplomática mais antiga e mais duradoura do mundo e que permanece em vigor é realizada em Braga pela cidade ser a capital do distrito onde foi assinado o primeiro tratado entre Inglaterra e Portugal a 10 de julho de 1372, conhecido pelo Tratado de Tagilde, e conduziu ao Tratado de Aliança, assinado um ano depois (16 de junho de 1373), em Londres, na Catedral de S. Paulo.
Para Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, a associação da Cidade a estas comemorações “é motivo de orgulho e grande satisfação ser um dos epicentros da celebração de uma relação histórica do nosso país e que tem produzido muitos frutos em diversos domínios. Neste conjunto de iniciativas estão particularmente valorizadas as dimensões culturais, demonstrando que a Cultura é sempre uma boa porta para o relacionamento entre os povos e diferentes nações. Num contexto como aquele em que hoje vivemos, no qual é preciso estreitar cada vez mais os laços para lá das nossas fronteiras, tudo o que contribua para revitalizar e afirmar uma relação tão forte como esta, é extremamente importante”.
Katharine Felton, Conselheira Política da Embaixada Britânica em Lisboa por sua vez, refere que “é uma honra juntarmo-nos a parceiros tão prestigiados na lindíssima cidade de Braga para o lançamento das comemorações dos 650 anos da relação bilateral e de amizade entre portugueses e britânicos, que desejamos continuar a aprofundar no futuro. Estamos muito entusiasmados com o vasto conjunto de iniciativas, que acreditamos que assinalam em Portugal e no Reino Unido, da forma mais distinta a verdadeira essência desta antiga aliança entre os nossos dois países.”
Portugal-UK 650 é a iniciativa responsável pelas comemorações do 650º aniversário da Aliança Luso-Britânica em Portugal e no Reino Unido e espera contribuir para uma sociedade mais segura e fraterna, com maior conhecimento do seu património histórico-cultural, mais solidariedade internacional e um diálogo, cooperação e amizade fortalecidos entre os cidadãos de ambos os países. A presidente da iniciativa, Maria João Araujo fez o enquadramento histórico da Aliança Luso-britânica, referiu a sua importância para os dias de hoje e elencou as diversas atividades que estão previstas para os próximos dois anos e pensadas para todas as faixas etárias.
Maria João Rodrigues de Araújo, presidente de Portugal-UK 650 salienta que se pretende que “todos se sintam parte destas comemorações, e por isso criamos um programa diversificado de atividades para que todos possam participar. Um dos nossos objetivos é promover os valores expressos no Tratado fundacional da Aliança no mundo atual: paz, amizade, verdade, fidelidade, constância, solidariedade, sinceridade e amabilidade. Esperámos contribuir para que cada um dos participantes, nas várias atividades, se sinta inspirado a ser embaixador destes valores, na sua comunidade e no mundo inteiro, tão necessitado de paz, neste momento.”
Um Congresso interdisciplinar e webinars sobre a Aliança Luso-Britânica, vários projetos de colaboração entre instituições de ambos os países, incluindo um projeto de investigação interdisciplinar, intercâmbios entre escolas, recursos educativos para alunos desde o pré-escolar até ao secundário, uma Gala no Theatro Circo com performances de artistas portugueses e britânicos, o projeto “6.50 Trooping the Colour”, desenvolvido pelo Agrupamento de Escolas de Alberto Sampaio, uma nova ópera criada pelo estúdio de ópera do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, e o projeto Dance in Perpetuity / Dança na Perpetuidade são algumas das intervenções que fazem parte das celebrações dos 650 anos da Aliança Luso-Britânica.
Fleur Derbyshire-Fox e Laura Harvey, Engagement Director e Head of Creative Programmes do English National Ballet, respetivamente, também presentes na Conferência de Imprensa tiveram a oportunidade de explicar o conceito do projeto. Um projeto que irá decorrer, em simultâneo, em Braga e no Reino Unido, desenvolvido pelo English National Ballet, pela autarquia bracarense e por Portugal-UK 650.
Uma iniciativa que permite que as entidades parceiras possam celebrar a Aliança Luso-britânica através de um projeto de performance, em larga escala, fundamentado nos valores fundacionais da Aliança Luso-Britânica, envolvendo artistas, escolas, comunidades locais, além de um intercâmbio internacional.
No âmbito da celebração desta data, está a ser desenvolvida uma nova dança para que todos celebrem a Aliança, como parte do projeto “Dança na Perpetuidade”. O tema “Dança da Celebração” foi criado para que todos participem, sejam amadores ou artistas. A coreografia será acessível, inclusiva e divertida, tendo a paz e a amizade perpétuas como tema central.
Fleur Derbyshire-Fox, líder deste projeto desenvolvido pelo English National Ballet, afirma que “a Dança na Perpetuidade / Dance in Perpetuity é um dos pontos altos das comemorações do 650º aniversário da Aliança Luso-Britânica e é uma grande honra para o English National Ballet ter sido convidado a participar. Esta é uma excelente oportunidade para celebrar a Aliança através de um projeto de dança, em larga escala, fundamentado nos valores fundacionais da Aliança Luso-Britânica, com escolas, comunidades locais e um intercâmbio cultural internacional.
É particularmente oportuno para fazer a ligação entre as comunidades e fazer a ponte entre dois países alinhados à medida que emergimos da pandemia de Covid-19 que sabemos ter afetado, em particular, as oportunidades, o bem-estar e a saúde mental dos jovens. A dança tem as suas raízes na comunidade, celebração, e cura e é apropriado que a Dança na Perpetuidade celebre a Aliança Luso-Britânica e forneça um legado para os jovens em Portugal e no Reino Unido”.
Joana Miranda, coordenadora do Braga Media Arts, abordou ainda a realização de uma parceria com a cidade inglesa de York e Londres, que são “uma grande oportunidade” para a criatividade da arte e da cultura puderem atuar. “Estamos a desenvolver dois projetos únicos. O projeto colaborativo e artístico ‘Surrounds’ irá envolver estudantes de Braga e de York, abordando a temática do Ambiente. Com Londres, estamos a desenvolver um projeto de parceria com a Guildhall School of Music & Drama, em que a arte, a cultura e a criatividade envolverá a comunidade das duas cidades”.
Para mais informações sobre o programa das comemorações dos 650 anos da Aliança Luso-Britânica, sugere-se a consulta do site https://portugal-uk650.com
Sobre Portugal-UK 650
Portugal-UK 650 é a iniciativa responsável pelas comemorações do 650º aniversário da Aliança Luso-Britânica em Portugal e no Reino Unido.
Pretende celebrar e dar a conhecer a história comum, escrever novos capítulos de amizade, cooperação e comércio, desenvolver investigação científica sobre a Aliança Luso-Britânica, e promover os valores do Tratado fundacional da Aliança no mundo atual – paz, amizade, verdade, fidelidade, constância, solidariedade, sinceridade e amabilidade – “…haverá daqui em diante uma verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua paz e amizade, união e aliança e liga de sincero afeto” (Artigo I, Tratado da Aliança, Londres 16 junho 1373) – apelando à responsabilidade e compromisso de cada um.
A longo prazo, Portugal-UK 650 espera contribuir para uma sociedade mais segura e fraterna, com maior conhecimento do seu património histórico-cultural, mais solidariedade internacional e um diálogo, cooperação e amizade fortalecidos entre os cidadãos de ambos os países.
O programa das comemorações dos 650 anos da Aliança Luso-Britânica pode ser consultado no site https://portugal-uk650.com
Para além da celebração das datas de maior importância – os 650 anos do Tratado de Tagilde (10 de julho de 2022) e do Tratado de Londres (16 de junho de 2023) ̶ engloba outras iniciativas, até meados de 2023, em parceria com mais de 100 instituições portuguesas e britânicas, no âmbito da investigação, educação, cultura, comércio, de cooperação e sociais.
Para informações sobre a iniciativa Portugal-UK 650, p.f. contacte:
Francisco Mendia: fm@cunhavaz.com (919 780 360);
Maria João Quintela: mjq@cunhavaz.com (92 763 89 43).
Sobre os Tratados
Tratado de Tagilde
O Tratado de Tagilde foi firmado em 10 de julho de 1372, na Igreja de S. Salvador de Tagilde (município de Vizela, distrito de Braga), entre o rei D. Fernando I de Portugal e os representantes de João de Gante, Duque de Lencastre e quarto filho do rei Eduardo III de Inglaterra. Este tratado sela a aliança destes dois pretendentes ao trono castelhano e é considerado o preâmbulo da aliança que ainda hoje vigora.
O contexto que propicia o Tratado de Tagilde situa-se na Guerra dos Cem Anos e nas disputas de dois irmãos ao trono de Castela. Por um lado, D. Pedro que tinha sido despojado da coroa castelhana por D. Henrique de Trastâmara, irmão ilegítimo, e que tinha angariado o apoio inglês para a reaver. Por outro lado, D. Henrique de Trastâmara, mais tarde Henrique II, que tinha logrado o apoio da França. Na batalha de Montiel (março de 1369) D. Pedro é morto e D. Fernando I de Portugal, que é bisneto legítimo de D. Sancho IV de Castela, declara guerra a D. Henrique II.
Foi nestas circunstâncias que chegou a Portugal uma embaixada de João de Gante, que tinha casado em 1371 com D. Constança, filha de D. Pedro e, por isso, tinha pretensões ao trono castelhano. Como embaixadores do Duque de Lencastre vieram João Fernandes Andeiro e Roger Hoor. Este tratado, no essencial, determina que o Rei de Portugal e o Duque de Lencastre sejam verdadeiros amigos e que façam guerra simultânea contra Castela e Aragão por duas frentes: os ingleses a norte e os portugueses a oeste.
Pouco depois da assinatura deste tratado, D. Fernando enviou ao Duque de Lencastre dois embaixadores, Vasco Domingues e João Fernandes Andeiro, a fim de que este jurasse e firmasse o Tratado de Tagilde. Os mesmos embaixadores levavam, igualmente, uma procuração com poderes para fazer alianças complementares com Eduardo III de Inglaterra e com o Príncipe de Gales. As negociações propiciadas por esta procuração resultaram no Tratado de Londres de 16 de junho de 1373.
Tratado de Londres
O Tratado de Paz, Amizade e Aliança acordado perpetuamente em 16 de junho de 1373 na Catedral de S. Paulo, entre o rei D. Fernando I e D. Leonor de Portugal e o rei Eduardo III de Inglaterra, é considerado o principal fundamento jurídico da aliança Luso-Britânica. Neste Tratado é citado como precedente o Tratado de Tagilde. Destaca-se do conteúdo das suas quatro cláusulas a declaração de mútua e perpétua paz, amizade, união e aliança entre ambas partes; o compromisso de nenhuma delas estabelecer amizade com os inimigos, émulos e perseguidores da outra parte; a obrigação recíproca de socorro com auxílio militar ou de qualquer outra espécie de ajuda por motivo de necessidade de defesa do reino, províncias, domínios e lugares em caso de ofensa, opressão, invasão por terra ou por mar. Desde então este tratado nunca foi revisto, tendo sido posteriormente confirmado em várias ocasiões.
Tratado de Windsor
Em 9 de maio de 1386, é assinado o Tratado de Windsor entre D. João I de Portugal e Ricardo II de Inglaterra. Este acordo ratifica a “liga, amizade e confederação perpétua” entre os dois monarcas com a obrigação de auxílio mútuo, sendo igualmente firmado em perpetuidade. É um tratado que tem uma amplitude de conteúdo maior que os dois anteriores, ao consagrar no seu articulado a liberdade de comércio e de trânsito dos naturais de cada uma das partes no território da outra parte.
Uma das primeiras consequências práticas deste tratado foi propiciar o início das gestões diplomáticas para o casamento entre D. João I de Portugal e Filipa de Lencastre, filha de João de Gante. O casamento, que se celebrou em 2 de fevereiro de 1387, iniciou um período de grande proximidade entre as duas casas reinantes. Esta aliança tornou-se ainda mais próxima quando o filho de João de Gante, que era cunhado de D. João I de Portugal, se tornou Henrique IV de Inglaterra.
Santarém diz-nos que a aliança entre Inglaterra e Portugal foi tão próxima durante o período que medeia desde a última metade do século XII até ao final do século XV que, em dezasseis tratados que os soberanos ingleses concluíram com outras nações, Portugal foi sempre incluído como aliado e confederado da Inglaterra. O facto de João I de Portugal ter sido o primeiro monarca estrangeiro a tornar-se Cavaleiro da Jarreteira (1400) apoia a tese daqueles que veem Portugal como o primeiro aliado político da Inglaterra.
A Guerra das Rosas iniciou um novo período na relação das partes. Contudo, este pacto de “[…] amizade verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua, uniões, alianças e atos de sincero afeto […]”, descrito no Artigo I do Tratado de Londres, manteve-se. Desde então, esta aliança foi confirmada num considerável leque de tratados Luso-Britânicos, sendo que a última confirmação formal data de 1914.
Com o benefício de uma visão retrospetiva, concordamos com a afirmação do historiador inglês Richard Lodge quando escreve que “não há nenhum estado na Europa com o qual as nossas relações tenham sido no seu todo tão continuamente íntimas e amigáveis” e também com Winston Churchill quando descreve esta aliança como sendo “sem paralelo na história mundial”. Durante os seus mais de seis séculos de existência, a aliança Luso-Britânica superou as mais desafiantes contingências históricas, incluindo duas guerras mundiais, a ascensão e queda de impérios, revoluções e descolonização, multilateralização das relações internacionais, integração europeia e o fim da Guerra Fria. Nos dias de hoje, desejamos que a Aliança continue a inspirar novos capítulos de amizade a serem celebrados por mais 650 anos.
Fonte referente aos Tratados: Alexandra M. Rodrigues Araújo